quinta-feira, novembro 23, 2006

Liberdade, sim, mas que liberdade?
Pode o homem ser verdadeiramente livre? Há quem defenda o determinismo biológico e afirme que o homem é condicionado e limitado pela sua herança genética e há também quem defenda o determinismo social, insistindo na ideia de que o homem é um mero produto da sociedade. Será a liberdade uma ilusão? Temos que confessar que sim: a liberdade total, a liberdade de se fazer tudo o que se quiser, é uma ilusão e uma ilusão perigosa. A liberdade absoluta, sem limites e sem condições é talvez própria dos deuses mas nunca dos homens. Se reconhecemos que essa liberdade é uma ilusão não seremos também forçados a reconhecer que não existe qualquer liberdade porque o homem, tal como tudo quanto existe na natureza, é comandado por leis imutáveis? Aceitamos que na natureza não há acasos e que tudo acontece de acordo com uma cadeia de causas e consequências. Também será assim no domínio do humano? Será que há um domínio especificamente humano, claramente distinto dos outros domínios? Demasiadas perguntas de uma vez só.
Ao debruçarem-se sobre estas questões, muitos filósofos clássicos optaram por negar a liberdade afirmando a necessidade. A pretensa liberdade que julgamos usufruir não passa, para Espinosa, de fruto da ignorância pois, se conhecessemos as leis que regem tudo, saberiamos que as nossas decisões foram necessárias, constringentes e não livres. Outros, como Kant, insistiram na autonomia humana, no livre arbítrio, acentuando o facto de que cada escolha deve ser produto de uma vontade livre e racional.
Sem deixar de pertencer à natureza, o homem tem características específicas que o diferenciam dos outros animais. Não é só a racionalidade ou a consciência da finitude mas também a importância que a acção reveste na sua construção que são próprios do ser humano. O homem constrói-se ao longo do tempo e para essa construção contribuem as suas acções, as suas escolhas. Se se pensar que essas escolhas não são livres estaremos a afirmar que o homem já está predestinado, limitando-se a cumprir um plano prédefinido. É a liberdade que dá sentido à vida humana, é a liberdade que permite ao homem assumir-se como um ser que age e se responsabiliza por aquilo que faz. Sem liberdade não há responsabilidade porque não podemos ser responsáveis por aquilo que fizemos obrigados ou que não foi escolhido por nós.
É preciso que o homem seja livre mas a liberdade não é ilimitada; ela é uma liberdade condicionada, situada. O campo das escolhas não é infinito porque o homem é um ser em situação, condicionado por múltiplas circunstâncias e, entre elas, o seu corpo, a sua condição física e psicológica e as normas e leis da sociedade em que está inserido. Mas mesmo não sendo infinitas há sempre possibilidade de escolher por muito limitadas que sejam essas possibilidades e são essas escolhas, por vezes difíceis, que definem os homens. O homem é um ser capaz de se superar, ultrapassando as limitações e barreiras aparentemente mais intransponíveis e é aí que reside o seu espaço de liberdade. O homem é um ser que não nasce livre mas que precisa de conquistar a sua emancipação, afirmar-se como autónomo, senhor do seu destino, livre.

1 comentário:

Unknown disse...

Gostei muito!